Uma louca tempestade, onde não há abrigo.: Smoking in the deep.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Smoking in the deep.

Ainda tonta, a meretriz levava sua mão até o a carteira de cigarros que tinha na cabeceira de sua cama. Por vez, puxou a carteira de cigarros e assim, sentou na cama, enquanto segurava o maço. Pensou consigo mesma que mais um dia tinha passado, que um novo homem havia habitado sua cama, havia abusado de sua intimidade já não tão íntima... 

Meio que numa rotina, a meretriz acendeu o seu cigarro, levantou-se da cama e foi até o seu espelho.


Enquanto ela penteava o seu cabelo, ela refletia sobre a sua realidade. Realidade essa que ninguém nunca havia pedido ao bom Senhor que habita o céu. A pobre meretriz, já chorava, chorava por estar viva, chorava por não ter tido uma vida perfeita, com um homem que a amasse - homens que até então só a procuravam à procura de prazer. -  com filhos correndo por sua casa, com amigas que fossem lhe visitar enquanto tomavam um chá, com sua casa com gramado, cercas brancas, e um "ar-de-Califórnia"...

Mas ela não desistia, mesmo sentindo que seu coração havia se transformado em pó, ela não parava de vender seu corpo em troca de míseros trocados para saciar a sua fome insaciável. Amor próprio? Talvez. Quando a jovem meretriz dava por si mesma, era hora de mais outro programa. Mais outro sofrimento, a angústia era sua única companheira. E a solidão? Quase que amigas íntimas.



Passou-lhe o batom vermelho nos lábios, respirou fundo, limpou rapidamente suas lágrimas e foi em direção a porta, ainda com seu cigarro, encostou na entrada de seu imundo quarto e ficou ali, a espera de uma nova companhia. Não importava se era doutor ou se era gari, pra ela, nada mais fazia sentido, a não ser o início e o fim de seu cigarro.



Jefferson Arruda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário